A influência do calor em nosso bem estar

José Carlos Campos Velho

Lembro de notícia que li há alguns anos no jornal, que falava sobre uma onda de mortes de idosos na França em decorrência do calor extremo. Tendo em vista o calor que sofremos em Santa Maria – e no Rio Grande do Sul - nos últimos dias, fui rever a notícia. Creio que não foi a mesma notícia que revi: mas em 2023, calores extremos na França acompanharam-se de um aumento significativo de mortes, em que a maioria era de pessoas idosas. Parece que se trata de um problema recorrente. A situação na França em 2023 foi tão grave que ocorreu uma sobrecarga dos serviços funerários, com situações tão desconfortáveis como necessidade de recorrer à caminhões frigoríficos, à um depósito de carnes congeladas próximo de Paris e mais de uma centena de corpos que não foram reclamados por seus familiares, permanecendo insepultos.


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Tais fatos provocaram indignação entre os franceses e foram fartamente divulgados na mídia. O verão de 2023 foi o mais quente no país nos últimos 60 anos. É muito provável que a situação possa se repetir, se medidas não forem tomadas no sentido de um cuidado maior com as pessoas mais vulneráveis. A perspectiva, diante da emergência climática e do aquecimento global, é de que o enfrentamento deste tipo de situação vá se tornar mais frequente, ou mesmo rotineiro.


Extremo

Aqui no Brasil, a Fiocruz divulgou um estudo recente, que demonstra um aumento da mortalidade relacionada aos calores extremos. O estudo, conduzido pelo doutorando em Epidemiologia João Henrique de Araújo Morais, inova ao mostrar que “níveis de calor” relacionam-se ao aumento da mortalidade. ‘Os NCs variam de 1 a 5 e indicam riscos e ações que devem ser tomadas em cada um deles. O registro de Nível de Calor 4, quando a temperatura é superior a 40 °C por quatro horas ou mais, está associado a um aumento de 50% na mortalidade por doenças como hipertensão, diabetes e insuficiência renal entre idosos. “Em Nível 5, de duas horas com Índice de Calor igual ou acima de 44 °C, esse mesmo aumento é observado e é agravado conforme o número de horas aumenta. Portanto, o estudo confirma que nesses níveis extremos definidos no protocolo o risco à saúde é real”, detalhou o autor.’


Políticas públicas

Além disso, observa-se que, além das doenças cardiovasculares, ocorre um risco maior de morte também em pacientes portadores de doença de Alzheimer, doenças metabólicas como a insuficiência renal e infecções urinárias. O mesmo estudo sugere que existe necessidade da criação de políticas públicas para que tal situação seja enfrentada de maneira mais racional, sistemática e rotineira. Embora o estudo tenha estudado a cidade do Rio de Janeiro, é muito provável que a situação seja semelhante em inúmeras outras cidades brasileiras. “Outros estudos já mostraram o aumento de frequência e intensidade das ondas de calor não só para o município do Rio, mas para diversas áreas urbanas do Brasil. Medidas individuais são importantes, mas é necessário ter políticas públicas que adequem as atividades e protejam a população. Sabe-se que populações específicas estão em alto risco – como trabalhadores diretamente expostos ao sol, populações de rua, grupos mais vulneráveis (crianças, idosos, pessoas com doenças crônicas), e populações que vivem nas chamadas Ilhas de Calor Urbano. Assim, espera-se que ações tomadas no Protocolo de Calor do Município do Rio, como disponibilização de pontos de hidratação e resfriamento, adaptação de atividades de trabalho, comunicação constante com a população e suspensão de atividades de risco em níveis mais críticos sejam difundidas e adotadas também em outros municípios, com o objetivo de proteger a saúde da população, sobretudo dos mais vulneráveis”. 


Grupo de risco 

As pessoas idosas estão entre estes grupos de risco. Além da oferta generosa de líquidos, do resfriamento e da umidificação do ambiente, alguns impasses permanecem. Idosos, particularmente em extremos etários, tem o mecanismo da sede comprometido, frequentemente recusam-se a aceitar a oferta de líquidos; muitas vezes, por encontrarem-se acamados ou apresentarem dificuldades de mobilização, tem dificuldade de acesso às fontes de líquidos, o que nos sugere que a supervisão e a vigilância destas pessoas é essencial para que se mantenham hidratados e protegidos do calor. 


Água é vida

A chuva dos últimos dias nos deu uma trégua. Porém, a previsão, para as próximas 2 semanas, em Santa Maria, projeta possibilidades de temperaturas próximas à 37ºC. Importante que estejamos atentos, preparados e olhando com cautela para as pessoas com maior risco de serem afetadas pelas altas temperaturas. Seja em casa, nas ILPIs( Instituições de Longa Permanência para Idosos), nos hospitais, lugares que concentram as pessoas adoentadas, medidas de proteção são essenciais e devem ser tomadas preventivamente. Da mesma forma que as plantas, as pessoas idosas precisam de água. Senão, correm o risco de murchar e mesmo morrer. Água é vida.   

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